sexta-feira, 17 de julho de 2009


E como se, depois de ter matado a velha, o seu desejo por sangue continuasse forte, pegou o cutelo e cortou três dedos de sua mão esquerda. Enquanto lambia o líquido viscoso, olhou para a sua imagem no espelho. Era a da velha.

Passava as unhas no veludo negro e abria ali sulcos de sangue; no brilho das pedras preciosas e no ouro de seus cofres ouvia os gritos de suas vítimas. Dos velhos, tirara a paz, dos adultos, a esperança, e, das crianças, a inocência. Era a encarnação do sucesso.

Madrugada, na estrada que ligava o balneário ao centro da cidade, só o casal, no carro que acabara de pifar. Aqueles que riam e escarneciam dos que acreditavam em deus, vida após a morte e almas do outro mundo. Ainda bem, pois como se explicaria aquela máscara de pavor congelada em seus rostos na manhã seguinte?

Ela adorava tudo o que fosse de couro ou pele natural; em sua casa, nas suas roupas e nas de seus filhos. Quando o primogênito faleceu, em meio à dor, teve a nítida impressão de tê-lo ouvido na pele do abajur; agora, ali, estirada no meio da sala, sentiu que alguém pisava sobre ela.

No mármore frio, a sua amada jazia branca, nua e fria. Parou a doce contemplação para abrir a porta para o homem da funerária que trazia o belo caixão que encomendara. Adorava Shakespeare, era um romântico, e não queria que a amada partisse sozinha. O homem coube direitinho.

5 comentários:

  1. e sangue com ótimo resultado. li e reli. haja arte, rose. vou ouvir o som indicado e continuar
    a me deliciar.
    .
    e acredite q dei um passar de olhos aqui para ver o que tinha com peles de animais. confirmei:
    nada.
    .
    e o seu final, foi muito feliz, viu?

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  2. o quadro q fica por trás do título foi desenhado com sangue humano/ a banda punk é pura coincidência, pois escolhi o nome sem saber de nada, porque quis/ e essas historinhas tem sua origem num concurso no qual entrei/ mandei umas quantas, e ainda tenho muitas para postar,além das q crio a cada noite (de tempestade, ranger de escadas e vento açoitando as vidraças- a la fresca!)/ outra obra q gostaria de ver editada.

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  3. ah! ia perguntar-lhe sobre do que ou qdo vem sua motivação para esse conto e afins.
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    o cenário está ai ebm explicado: ranger da escada, tempestade com lampiões ao vento que
    açoita também as janelas. pensei no uivar do lôbo e raios no céu escuro.
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    quanta diversidade na sua criação, criatura!

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  4. Principalmente lobos, aqui no quintal tem uns sete...

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  5. e as lobas, a perder de vista, não? rs

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